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“O Estado está na mão do crime organizado”, diz ministro da Defesa sobre prisões

Em entrevista ao Jornal da Manhã da Jovem Pan nesta quarta-feira (3), o ministro da Defesa Raul Jungmann assumiu que “o Estado não tem o controle do sistema prisional” e disse que o sistema de cadeias, “particularmente estadual, é o inverso do que deveria ser”.

“Em lugar de ser um espaço de isolamento e controle praticamente absoluto, o Estado está na mão do crime organizado”, afirmou Jungmann. “Remos chefes de quadrilhas que foram geradas dentro do sistema prisional e que, de lá de dentro, continuam mandando em suas facções”, disse também.

O ministro da Defesa ainda acusou os Estados brasileiros de firmarem um “acordo tácito” com as “gangues”, permitindo a entrada de celulares nos presídios. Para Jungmann, o sistema estadual de presídios está “saturado” e tem “um nível alto de corrupção”.

“Acho que há um acordo tácito entre Estados através de sistemas prisionais e essas gangues que estão presas”, disse. “Não é uma tarefa tão difícil colocar um raio-x ou um detector de metais, até porque o governo federal disponibilizou isso para quem quisesse”.

Jungmann ainda citou o déficit de agentes penitenciários. Segundo o ministro, há cerca de “5 agentes penitenciários cuidando de 500, 700 presos”, o que classifica como “absurdo dos absurdos”.

“Ao ter a superlotação e déficit em termos de pessoal, isso passa para o controle dessas gangues e o Estado não quer confusão, não quer brigas”, reconheceu. Para o ministro da Defesa, os governos agem com os criminosos na base da regra “não mexe comigo, que eu não crio problemas para vocês”. Jungmann deu essas declarações ao ser questionado por que os governos têm tanta dificuldade de bloquear o contato entre dentro e fora das cadeias.

Apesar do “acordo” entre governos e facções, Jungmann diz que “eventualmente a disputa entre gangues leva a essas rebeliões e se torna um massacre maximizado porque um a cada dois (presos) está armado, daí a barbárie”.

No primeiro dia do ano, mais de 200 presos fugiram em uma rebelião em Goiânia (GO) que deixou nove detentos mortos. Mais da metade foi recapturada, porém dezenas seguem foragidos. Um dia depois, nesta terça (2), dois agentes penitenciários foram mortos em Anápolis, a 60 km da capital de Goiás.

Sob vigília das Forças Armadas, turistas ignoram crise no RN, mas moradores relatam medo¹

O sol intenso do verão potiguar é um atrativo a turistas brasileiros e estrangeiros, mas, neste ano, a alta temporada tem sido atípica em razão da paralisação de serviços de policiais militares e civis. Mesmo assim, os principais roteiros turísticos de Natal não foram atingidos pela crise de segurança e não registraram casos de violência –o que não afetou a rotina dos turistas. Por outro lado, moradores de bairros mais distantes da área turística de Natal relatam medo de sair às ruas.

Na manhã de quarta-feira (3), a reportagem do UOL visitou a mais tradicional praia urbana de Natal, a Ponta Negra. Com o vaivém de carros das Forças Armadas, o clima no local era de tranquilidade: praia cheia e oferta de passeios e serviços. Foi assim durante todo o período agudo da crise da segurança. Os militares fazem patrulhamento nas ruas do Estado desde 29 de dezembro.

Entre os turistas que passeiam na orla de Ponta Negra, a percepção do cenário de insegurança ficou distante. Isso se deve à presença de forças de segurança nas regiões mais visitadas da capital potiguar, o que afastou criminosos.
 
Uma turma de Roraima com oito pessoas chegou no dia 17 -dois dias antes do aquartelamento dos policiais militares. Segundo a secretária Fran Almeida, 27, apesar das notícias negativas, não houve problemas com os passeios tampouco receio dos visitantes.

"Estava tranquilo por aqui, vi muito policiamento, alguns do Exército. Não tivemos medo. Foi uma viagem muito divertida e sem problemas", conta.

Durante o período em que esteve na orla, a reportagem não viu veículos da Força Nacional ou da PM (Polícia Militar) –apenas carros e tropas das Forças Armadas.

O casal de namorados mineiros Igor Abranches, 21, e Bruna Luiza Santos, 19, chegaram no dia 30. Eles dizem que não perceberam clima de insegurança por onde circularam. "Passeamos com muita tranquilidade até agora. Só quando cheguei que soube da notícia, mas não nos assustou. Estamos gostando", disse Igor.

 "É como um toque de recolher", diz moradora

Entre os natalenses que aproveitaram a praia nesta quarta, o clima era de tranquilidade na orla, bem diferente de bairros onde vivem e que estariam menos policiados.

A assistente social Amanda Carla Cavalcante, 23, mora no bairro de Neópolis, em Natal, e foi com duas amigas e a mãe até a praia de Ponta Negra. Ela afirma que, apesar da chegada do reforço policial, o clima ainda é de muita tensão entre os moradores do bairro onde vive -que não seria tão vigiado tano quanto os bairros turísticos.

"Lá está muito perigoso. Depois das 20h, quando fecha o supermercado, não fica ninguém na rua, é como um toque de recolher. A violência já vinha crescendo, muitos assaltos, os postes da minha rua apagados. Mas sem dúvida, pelo medo dessa situação dos policiais, as ruas ficaram ainda mais desertas. Todo mundo pensa duas vezes antes de sair", conta a jovem.

Entre os vendedores da Ponta Negra, a sensação é de que a quantidade de turistas este ano está abaixo da média. Eles culpam as notícias de insegurança divulgadas fora do Estado.

"No ano passado, tivemos um impacto pela rebelião em [presídio] Alcaçuz, mas pelo menos foi depois do Réveillon. Esse ano está bem pior. Essa época era para ter gente brigando por mesa, mas nós que estamos nos ajoelhando e pedindo para o turista sentar", afirmou o vendedor Cláudio Pereira, 34, que, há 15 anos, vende bebidas e petiscos na orla de Ponta Negra.

"Acho que estão com medo. Tem muitos turistas aqui, mas acho que eles estão ficando nos hotéis, porque é mais seguro", completa o também vendedor Luciano Moura, 38.

O UOL tentou contato com a assessoria de imprensa da seccional potiguar da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) para saber qual seria a ocupação da rede hoteleira no Réveillon e no começo deste mês, mas não obteve resposta. Antes da virada de ano, a entidade falou que o número de cancelamentos de pacotes foi muito baixo.

Segundo a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Natal, o clima de insegurança foi reduzido com a chegada das Forças Armadas. O movimento do comércio ainda não é considerado normal, mas a onda de arrastões e arrombamentos foi encerrada com o patrulhamento das tropas.
Segurança

Hoje, o Rio Grande do Norte conta com 2.800 homens das Forças Armadas e 220 da Força Nacional. Além deles, na Grande Natal, 57 carros da PM estão fazendo rondas e patrulhamento. O número é bem inferior ao ideal, mas esses são os únicos veículos que estão aptos a circularem.

Policiais civis e militares estão em uma operação padrão para cobrar melhores condições de trabalho e o pagamento dos salários de novembro (atrasado apenas para os que ganham mais de R$ 4.000), dezembro e do 13º.

O governo do Estado informou que, no sábado (6), vai quitar a folha de novembro ao restante do funcionalismo, mas não tem data para pagar dezembro e o 13º salário.

¹por Carlos Madeiro

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